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Sentimos, logo existimos



Pensamos e agimos e, para integrar um e outro, sentimos. Aí então existimos.

As habilidades cognitivas são sem dúvida uma importante ferramenta para nossa relação com o ambiente. Nossa tomada de consciência sobre nós mesmos e o universo (que são a mesma coisa, mas isso é assunto para uma próxima conversa) precisa estar alicerçada no exercício do pensar.

Não confunda conhecer, saber, estar informado, com habilidade cognitiva. Um pensar vivo começa quando conseguimos a partir do que observamos “pular dentro” do conhecimento para vivenciá-lo. Grandes quantidades de conteúdos não garantem uma vivência plena de nossa individualidade.

Por outro lado, o fazer, também importante para nossa caminhada de crescimento, é fundamental polo desta trimembração humana, mas, um fazer sem significado, automatizado, destituído de vontade, não cumpre sua função integralmente. Um fazer automático é um fazer vazio.

O que aquece o pensamento e enche o fazer de vontade é o sentir.

Precisamos de muito mais do que uma boa nota para “saber viver”, precisamos desenvolver nossas habilidades emocionais. Tratam-se de habilidades que desenvolvemos no coletivo, na troca com outras crianças e adultos, com a utilização de exercícios práticos e gostosos, que instigam nosso pensamento e desafiam nosso fazer.

Aquisição de conteúdos curriculares, exercícios na escola e em casa, testes e provas, podem garantir uma boa nota, mas, não serão suficientes para preparar nossas crianças e jovens para a vida de forma integral.

A vivência dos sentimentos é um fenômeno que se relaciona intimamente com o calor das relações humanas. Sentimos em relação ao outro, e por isso a convivência com outras crianças e adultos se faz tão importante.

Chega a hora em que as relações familiares já não são suficientes para que o aprendizado da convivência seja pleno, é preciso conviver com o diferente. Mesmo que a família se disponha a um diálogo sobre, o que é muito favorável, ainda assim falta o calor da vivência fora da família.

Na escola o foco está no cognitivo, nem sempre há espaço para a “digestão” das temáticas emocionais, nem sempre há condições para apoiar as crianças sobre o que lhes desperta a convivência com o diferente.

Então, como pais e educadores, é preciso que estejamos atentos sobre a quantas anda o desenvolvimento afetivo de nossas crianças e adolescentes.

Conheça mais de perto algumas das habilidades afetivas importantes para um desenvolvimento integral:

Reconhecimento dos sentimentos

Os sentimentos fazem parte do potencial humano, mas saber lidar com eles é um diferencial.

Faz parte do crescimento de qualquer ser humano a percepção de que muito embora situações, fatos, pessoas ou ocorrências nos provoquem raiva, medo ou tristeza, nós próprios é que seremos responsáveis por dar um bom direcionamento a estes sentimentos.

Ao longo da vida, nossas vivências e o significado que damos a elas vão “talhando” em nós o nosso universo emocional. Portanto, proporcionar às crianças um ambiente propício para uma apropriação saudável das emoções é imprescindível. Podemos aprender a utilizar positivamente qualquer um de nossos sentimentos, dando a eles dimensões proporcionais e utilizando-os como alavanca para uma boa interação com o mundo.

Comunicação

Ouvir e expressar são habilidades que favorecem circunstancialmente os relacionamentos. Aqui não estamos falando de qualquer escuta, não estamos falando de qualquer fala.

Nos referimos a uma escuta ativa, interessada, uma escuta onde usamos além dos ouvidos, os olhos, o corpo e também o coração.

Há uma incrível diferença entre ouvir o que o outro diz e ouvir o que você quer que ele diga. A primeira escuta amplia, a segunda restringe.

Expressar-se amplia seu mundo ao infinito. O exercício dos diferentes canais para a expressão multiplica as possibilidades.

Desenvolver vocabulário rico para expressar seu mundo interno, avaliar quando e como é seguro expressar-se, reconhecer a forma mais confortável de se comunicar, e desafiar-se para usar outras formas também exigem treino.

Assertividade

Ainda dentro do tema comunicação, uma habilidade importante é a assertividade.

Comunicar sem agressividade ou passividade. Assumir os próprios posicionamentos, as dúvidas com atenção às emoções, deixar que o outro saiba o que deseja comunicar, assumindo a responsabilidade pela compreensão do que se diz.

Diretamente ligado a isso está uma escuta respeitosa, que permite ao outro sua genuína expressão.

Responsabilidade sistêmica

Não estamos sós, somos seres gregários. Precisamos uns dos outros, uma hora como quem recebe outra hora como quem oferece.

Faz parte da natureza humana dar e receber. Ousaria ainda dizer que nos faz mais satisfeitos dar antes de receber.

Apurar o olhar para como minhas atitudes reverberam no coletivo, e consequentemente em mim, significa criar consciência sobre meu lugar nesta engrenagem.

Empatia

Desenvolver a capacidade de colocar-se no lugar do outro. Esta é mais uma habilidade inata (fisiológica) que podemos lapidar.

Somos capazes de sentir a dor de alguém que se feriu mesmo sem vivenciá-la. Existe um mecanismo em nós que nos faz bocejar quando alguém boceja, isso está ligado ao componente fisiológico da empatia.

Apreciar outros pontos de vista, buscar olhar pelos olhos de outro, considerando que as vivências dele o fizeram diferente de você, pode nos ajudar a viver a complementaridade nas relações no lugar das oposições e das competições cada vez mais avassaladoras.

Cooperação e flexibilidade encontrarão um espaço nos relacionamentos com exercícios de empatia.

Autoestima

Na convivência com o outro, especialmente o diferente e com espaço afetivo para me mostrar, vou formatando meu delineamento. Vou me tornando capaz de perceber que o que eu sou não pode ser ditado por modismos ou sistemas de recompensa ou punição.

Para gostar-se a criança não precisa ser o melhor em tudo, mas, também e principalmente relacionar-se bem com suas dificuldades, para ter força para superá-las.

Enxergar-se como um ser único e que contribui para o todo com suas peculiaridades, este é o diferencial.

Persistência

O que desafia hoje uma criança a lutar pelo que quer?

Tudo está pronto e lhes é oferecido pronto. Se prestarmos bastante atenção aos apelos que nos são feitos como pais e educadores poderemos perceber que somos considerados bons pais quanto mais proporcionamos aos nossos filhos entretenimento ou ocupação.

Em contrapartida, observamos crianças e adolescentes que a cada dia reivindicam mais nesta direção.

As múltiplas vivências são importantes para o desenvolvimento, mas convido-os a pensar de forma individualizada para seu filho e a sua necessidade pessoal. Não precisamos dar a eles o que é oferecido de forma massiva.

Basta uma criança dizer que está com tédio que os pais ou as escolas correm para tornar sua vivência cheia de atividades.

O tédio tem um grande potencial. Uma criança tem muito mais a desenvolver quando lhe é oferecido, por exemplo, pedaços de madeira, do que um brinquedo complexo e completo que o transformará em observador passivo. Desta forma a vontade, a curiosidade e, consequentemente, a persistência vão dando espaço à passividade e à preguiça.

Desde muito nova a criança pode ser educada em sua vontade, com pequenas tarefas que lhe parecerão desafios, também para estimulá-la à compreensão das consequências de seus atos.

Persistir vem deste treino de valorizar, integrar à rotina a percepção da ação e reação, da consequência do fazer e do não fazer.

Primeiramente pelo exemplo, a criança faz aquilo que assiste aos pais e educadores fazendo. Também proporcionando ambiente onde a criança seja ativa e não somente observadora.

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