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Crescer com os filhos



Peço licença para me referir inicialmente ao pai e à mãe, juntos ou separados, como simplesmente: pais.

Junto ao lugar de pais existe uma grandeza.

Levar a vida adiante é de uma grandeza sem igual, não quero dizer com isso que quando nos tornamos pais ganhamos automaticamente uma carteirinha de “ser iluminado” ou “dono da razão”, ao contrário, ganhamos o desafio de nos reinventar dia-a-dia, pois, apesar de grandes somos pessoas bem normais.

Então, que grandeza é essa a qual me refiro?

Simples: a ocorrência, ser pai, ser mãe nos joga para cima na hierarquia e diante de nossos filhos somos grandes. Não importa o quanto estamos preparados, ou quanto dinheiro temos, não importa nossa história ou caráter, agora alguém nos olha de baixo para cima, e um fluxo flui para além de mim, para minha criança.

Os pais são provedores, dão a vida, e quase sempre além da vida, dão a manutenção da vida, nutrem com alimento, com calor, com afeto, com ética, com espiritualidade, e nesse jogo de grandes e pequenos, os filhos tomam o que os pais dão.

Tomar leva aqui a conotação de pegar, pois quando algo nos é ofertado precisamos estender a mão e agarrar para que o processo se complete.

Além da precedência o caminho natural deste fluxo, de pai para filho, também define o lugar de grandeza dos pais.

Neste ponto o desafio está lançado: Ser Grande mesmo sendo uma pessoa bem normal. Temos colaboradores neste processo, um deles, o Tempo.

Crescemos como pais na medida em que nossos filhos crescem. Conforme vem o desafio e, por que não dizer, a crise, buscamos mais um passo de grandeza. Podemos até buscar ajuda daqueles para os quais olhamos de baixo para cima, mas, seremos nós mesmos o elo final desta corrente que nutre nossa criança.

Outro colaborador deste processo é a disponibilidade para a reinvenção. E bota reinvenção nisso!!!!

Em cada fase da vida, nossos filhos precisam de nós uma disponibilidade diferente, um mix variado de nutrição e permissão.

Nos anos iniciais, de 0 a 7, quase somente nutrição. Nesta fase somos mesmo pais heróis, pois de nossa disponibilidade depende até mesmo a vida de nossos filhos. São frágeis e dependentes, e em contato com um mundo bom, acolhedor, nutritivo, desenvolvem-se para os primeiros passos, as primeiras palavras, as primeiras relações e interações com o entorno. Lembremos que o último elo entre o mundo e a criança especialmente nesta fase, são os pais, portanto, temos a grandiosa tarefa de apresentar ao nosso filho um mundo bom, acolhedor, nutritivo. E bora correr atrás de saber, de exercitar e de fazer chegar a eles o mundo bom.

Pensemos nisso com simplicidade. Não precisamos fazer o mundo todo bom, ele já existe. Precisamos deixar chegar aos nossos filhos o mundo bom, tal e qual nossos pais o fizeram chegar a nós.

Mas, nem só de nutrição precisa uma criança. Não somos capazes de nutrir nossos filhos com o querer. O querer é algo intrínseco que podemos ajudar a educar.

De 7 a 14, claro, ainda uma boa dose de nutrição, aqui especialmente uma nutrição de ética, de responsabilidade por si e pelo coletivo.

Mas, para a educação do querer precisamos dar a eles também: permissão.

Permissão para sair do colo, para tropeçar e ralar o joelho, para amarrar o próprio sapato, para experimentar coisas novas. Permitam-me dizer até permissão para sentir tédio, permissão para ampliar o seu universo de fazeres e de vivenciar arte, ambientes, lugares.

Mas, deste jeito como vou proteger minha criança? Aí está o desafio: começamos aqui a nos despedir do pai herói que tudo provê e de tudo protege. É hora de permitir que seu filho comece a fazer isso por si só, é hora de instigar a vontade e o querer. Na idade adulta e no mundo corporativo chamamos isso de motivação. Criança que brinca, que se lança aos fazeres, está aprendendo uma boa relação com o trabalho.

A permissão para ir para o mundo se intensifica dos 14 aos 21. Nesta fase a nutrição se torna um “pano de fundo”.

Agora o mote é permitir que o próprio adolescente se responsabilize pelo resultado das escolhas que pode fazer.

Um bom exemplo disso é a administração do dinheiro com suas despesas cotidianas, pelo cuidado integral com seu material, roupas, responsabilidades escolares, com a arrumação do quarto e de uma forma crescente também com o coletivo.

Para tudo isso eles precisam que nossa permissão vá tomando o espaço da nutrição e, consequentemente, que como pais nos transformemos em coadjuvantes para que sigam como protagonistas da própria história.

Dos 21 em diante bem pouco podemos fazer para proteger nosso filho dos seus próprios caminhos a não ser nos manter na grandeza de pais que cuidam dos próprios caminhos e seguem mais sábios a desempenhar seus outros papéis, ao invés de ninho vazio, tempo e energia para a própria vida. Sem deixar de ser alguém que se olhe de baixo para cima. Assim o fluxo da vida segue.

 

ADRIANA CAMPIDELLI

Educadora e psicoterapeuta transpessoal.

Em sua prática utiliza técnicas de imersão da consciência e Programação Neurolinguística. Facilita grupos há mais de 20 anos e, na última década, também as Constelações Familiares segundo Bert Hellinger. Fundadora e diretora do Instituto Praesentia.

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